O QUE É GLOBALIZAÇÃO?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Carlos Escóssia

Hoje o mundo assiste a uma mudança de paradigma, isto é, na substituição do paradigma clássico das ciências sociais, baseados nas sociedades nacionais, por um novo paradigma emergente, baseado na sociedade global.
Segundo o professor Otávio Ianni, o mundo vai se transformando em território de tudo e de todos, onde tudo - gente, coisas idéias - tudo se desterritorializa e reterritorializa, adquirindo novas modalidades de territorialização. À medida que a sociedade global debilita o estado nacional, reflorescem identidade, passados e presentes.
Apesar de ainda ser visto por, alguns como mera ideologia, a globalização é um processo real, de caráter multifacetado e contraditório, que pode ser definido como “a concretização do mundo inteiro como um único lugar” e como o surgimento de uma condição humana global. A globalização como conceito se refere tanto à compreensão do mundo quanto à intensificação da consciência do mundo como um todo. A globalização não é algo que se deva estar a favor ou contra, querer ou não entrar; é um estado de coisas. A globalização rompe “as fronteiras nacionais”, acaba com a divisão interno/externo. A cultura mundializada se internaliza dentro de nós. O espaço local aproxima o que é distante e afasta o que é próximo, isto é, o local é influenciado pelo global ao mesmo tempo que o influência. O globalismo permite refletir sobre o presente, repensar o passado e imaginar o futuro.
A globalização redimensionou noções de espaço e tempo. Em segundos, noticias dão volta ao mundo, capitais entram e saem de um país por transferências eletrônicas, novos produtos são fabricados ao mesmo tempo, em muitos países e em nenhum deles isoladamente. Fenômenos globais influenciam fatos locais e vice-versa. Surgem algumas noções expressivas como, por exemplo, aldeia global, fábrica global, cidade global, shopping center global, Disneylândia global, macdonização do mundo. Embora enfatizando aspectos diferenciados, essas metáforas parecem sugerir a idéia de uma padronização do comportamento humano.
O ponto de partida da globalização é o processo de internacionalização da economia, ininterrupta desde a Segunda Guerra Mundial. Por internacionalização da economia mundial entende-se um crescimento do comércio e do investimento internacional mais rápido do que a produção conjunta dos países, ampliando as bases internacionais do capitalismo (incorporação de mais áreas e nações) e unindo progressivamente o conjunto do mundo num único circuito de reprodução das condições humanas de existência.
A pré-história da globalização situa-se na década de 60, quando as áreas periféricas da economia mundial começaram a ser sacudidas pela expansão da empresa transnacional, pela “nova divisão internacional do trabalho”, os empréstimos bancários, “baratos” do mercado do eurodólar e o bom petroleiro mundial. Na década de 80, inicia-se uma nova história: o mundo industrial é sacudido por uma profunda reestruturação capitalista, sustentada tecnicamente na revolução informática e das comunicações, tornando possível a centralização dos processos produtivos. A nova tecnologia influi em todos os campos da vida econômica e revoluciona o sistema financeiro pela conexão eletrônica dos distintos mercados.
Na segunda metade dos anos 80 e começo dos 90, dois fenômenos completaram as premissas espaciais da extensão da globalização ao conjunto do mundo: a derrubada do socialismo de estado na ex-URSS e no leste europeu; o desmoronamento do nacionalismo corporativo comercial e financeiro, saída negociada da crise da dívida, estabilização financeira e monetária e privatizações de empresas estatais.
É fundamental entender que o capitalismo globalizou-se, não só pelo desenvolvimento da nova divisão internacional do trabalho, mas também é principalmente, por sua penetração nas economias do conjunto dos países que compreendiam o mundo socialista, tornando o mundo do trabalho realmente global. Antes da desagregação do bloco soviético, simbolizada na queda do muro de Berlim, em 1989, já havia influência do capitalismo em diversos países socialistas. A agressividade e expansividade das forças sociais, econômicas, políticas e culturais do capitalismo assolavam duramente o mundo socialista como um todo.
Aliás, a desagregação do bloco soviético foi provocada, em certa medida, também por essa agressividade e expansividade. A realidade é que o fim do século XX, quando já anuncia o século XXI, a globalização do capitalismo carrega consigo a globalização do mundo do trabalho.
Estamos diante de uma nova revolução, fundada na microeletrônica, na informática e nas telecomunicações, que desterritorializa o individuo, configurando um novo modo de vida.

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