A QUEDA

quinta-feira, 23 de abril de 2009


É terrível cair.
Não é apenas o orgulho que cai
Quando caímos
Mas toda a segurança interior
Equilíbrio de cérebro e pessoa.
Caindo, nos perdemos; e alguma coisa
Fica lá, em toda queda.
Algo irrecuperável.
Alguma perda total e absoluta,
Para sempre e um dia.
Parte de um todo nosso, interior,
Jamais recuperado.
Caímos e jamais nos levantamos
Outra ves os mesmos.
Tudo que é vivo teme a queda,
Vive em função da queda que virá,
Fatal, em momento e hora insuspeitados.
Homem, bípede mal equilibrado.

Diminuímos o efeito da queda
Pela espera da queda
E chamando-a de outros nomes:
Tropeção (que é semiqueda)
Trambolhão (que é quase queda)
Esparramar (que é queda e meia).
Eufemismo tudo para o efeito
Único, moral e contundente,
Da palavra sinistra,
Fato e fator,
Acontecimento físico e
Metafísico.
Millôr Fernandes

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