POESIA MATEMÁTICO

sábado, 4 de abril de 2009


Millôr Fernandes

Às folhas tantas
Do livro matemático
Um quociente apaixonou-se
Um dia
Doidamente
Por uma incógnita.

Olhou-a com seu olhar inumerável
E viu-a, do Ápice à Base.
Um Figura Impar;
Olhos rombóides, boca trapezóide,
Corpo otogonal, seios esferóide.

Fez da sua
Uma vida
Paralela a dela
Até que se encontraram
No Infinito.
"Quem és tu?" indagou ele
Com ânsia radical.
"Eu sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."

E de falarem descobriram que eram
- O que em aritimética, corresponde
A alma irmãs -
Primos-entre-se
E assim se amaram
Ao quadrado da velocidade da luz
Numa sexta potenciação
Traçando
Ao sabor do momento
E da paixão
Retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
Nos jardins da Quarta Dimensão.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclideanas
E os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim resolveram se casar
Constituir um lar
Mais que um lar,
Uma perpendicular.

Convidaram para padrinhos
O Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro Sonhando com uma felicidade
Integral
E diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
Muito engraçadinhos.

E foram felizes
Até aquele dia
Em que tudo, afinal.
Vira monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
Freqüentador de Círculos Concêntricos
Viciosos.

Ofereceu-lhe, a ela,
Uma Grandeza Absoluta,
E reduziu-a a um Demominador Comum
Ele, Quociente, percebeu
Que com ela não formava mais Um Topo,Uma unidade. Era o Triângulo,

Tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era a fração
Mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
E tudo que era espúrio passou a ser
Moralidade
Como, aliás, em qualquer
Sociedade.

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