FOLCLORE POLÍTICO

terça-feira, 28 de abril de 2009


10 de fevereiro de 1961, dez dias depois da posse de Leonel Brizola no governo, fui a Porto Alegre entrevistá-lo. Recebeu-me no dia seguinte às seis horas da manhã (madrugada, claro), no gabinete da presidência da Caixa Econômica Estadual, onde se escondia bem cedo para dar arrancada nas primeiras medidas administrativas.
Lembro que estavam lá, com cara de sono, Brusa Neto e Hamílton Chaves, dois dos principais assessores.

A conversa foi longa e objetiva. Ia anotando. A certa altura, Brizola pede que não anote:
- Isto que vou te dizer agora não deve ser publicado, porque não quero criar nenhum problema para o presidente Jânio Quadro. Gosto dele. Estamos, os dois, com apenas dez dias de governo.

Tomamos posse no dia 31 e já começam a surgir problemas graves.
- De que tipo, Governador?
- Políticos e econômicos. Sobretudo políticos. Tu já fizestes uma analíse das forças políticas e econômicas que financiaram o "Vassourinha"? ("Vassourinha" era o Jânio). Para atender às necessidades do país e aos seis milhões de eleitores que votaram nele, ele vai ter que mudar de comportamento e as forças que o financiaram não vão se conformar.

Bateu o fundo da caneta na mesa, ficou pensando longe:
- Tu deves ficar atento. Daqui a seis meses, ou ele renuncia ou vamos para guerra civil.
Fui para o hotel, anotei e guardei.
Com seis meses Jânio renunciou.
Sebastião Nery

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