O QUE É SER UM ESCÓSSIA?

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


* Carla Melo da Escóssia
Estamos aqui reunidos para celebrar mais um encontro. Um encontro de gerações, mais especificamente dos descendentes de Jeremias da Rocha Nogueira e seu filho João da Escóssia. Por isso, gostaria inicialmente de saudar os descendentes de Joel da Escóssia, Escossinha, Escossizilda, Dulce da Escóssia e Lauro da Escóssia, meu avô.
Nesta noite, quem talvez devesse estar aqui era meu pai, Lauro da Escóssia Filho. Mas, às vezes, somos confrontados com obrigações diante das quais não podemos fugir. Afinal, uma Escóssia “não foge à luta”.
Antes mesmo de escrever estas palavras me pus a pensar sobre o que me faz e nos faz ser Escóssia. Algumas das vezes, em que fui identificada como membro desta família, ouvi coisas do tipo:
- “Os Escóssia: Ah, esses mandam em Mossoró”; ou ainda brincadeiras como a que dizia a saudosa amiga Ângela Borges, para quem os Escóssia era a “família Kennedy” de Mossoró.
Ditas em tom de brincadeira ou não, a verdade é que a história de Mossoró e do Rio Grande do Norte está irremediavelmente ligada à história desta família, de seus homens e mulheres, de suas idéias e ideais.
Mas, ser Escóssia não é ser de Mossoró, ou de Natal, ou de Fortaleza. Hoje somos tantos, espalhados por tantos cantos. O que nos une afinal? E, mais que isso, o que nos identifica?
É ter pele meio avermelhada, os olhos claros e gostar de comer bolo quente? Com certeza não. Ou é chegar quase sempre atrasado e fazer festa com tudo?
É ter pernas grossas e sangue quente? É isso? Ou é brincar no jornalismo e gostar de fazer política? Também, mas não só isso.
Esta família, que não tem origem em nenhuma aristocracia rural, nasceu do sonho de um homem livre acalentado pelas idéias iluministas de Jeremias da Rocha. Para quem ainda não sabe, o sobrenome Escóssia surge a partir de um gesto de rebeldia, diante de uma igreja inquisidora.
A família nasce na defesa da Republica contra a Monarquia, e pela liberdade de expressão. Não foi por acaso que fundamos O Mossoroense, o segundo jornal mais antigo do Brasil.
É bem verdade que a força de nossas idéias já dividiu esta família. Já ganhamos homens e já perdemos. As nossas derrotas, entretanto, nunca nos fizeram fracos ou covardes. Tampouco as nossas vitórias nos tornaram melhores ou superiores a quem quer que seja. O que nos faz Escóssia, sendo muitos ou sendo poucos, estando perto ou longe é, sem dúvida, a força para enfrentar preconceitos e derrubar barreiras. É sabermos usufruir das nossas conquistas sem se deixar inebriar pelo brilho fugaz da vaidade, da riqueza e do poder. Ser Escóssia é fazer do talento e do trabalho nossas principais âncoras.
Ser Escóssia é acreditar no futuro, é olhar a tradição sem enaltecer seus dogmas.
Ser Escóssia é ter exemplos como os de Tia Dulce e João da Escóssia, Ana Floriano, Escossinha e Lauro da Escóssia e passar as suas lições para nossos filhos.

*Discurso proferido na 4ª Convenção dos Escóssias, realizada em janeiro de 2006

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